terça-feira, 9 de junho de 2009

Guerra do Ultramar

“Eram tempos muito difíceis” – disse-me o meu avô. “Tinha 3 filhos pequenos, a avó não trabalhava porque não tinha a quem deixar os filhos pequenos e era difícil para uma mulher trabalhar.”A minha avó disse que antigamente as mulheres estavam mais em casa a tratar dos filhos e do marido. Ela só trabalhou até nascer o segundo filho.Em 1968, com 31 anos, o meu avô foi para França procurar trabalho. Apesar de ter um emprego em Portugal, ganhava-se pouco e precisava de procurar uma melhor vida para a sua família.O meu avô continuou a contar a sua história: “Não tinha passaporte, nem conseguia arranjar e não se podia passar a fronteira sem autorização. Tive que ir a salto.”“Aos saltos?” – perguntei. O meu avô explicou que a salto era atravessar a fronteira pelos campos, onde não existia a possibilidade de serem descobertos pelos polícias.Se fosse descoberto, ia preso. Não havia liberdade e todas as pessoas eram cuidadosamente vigiadas pela polícia.Quando o meu avô chegou a França, sentiu-se um pouco perdido e sozinho, mas uns amigos ajudaram-no a arranjar trabalho e ficou 2 meses em casa deles.













































Café, no centro de Paris – O meu avô, ao centro, com os amigos, com quem viveu 2 meses.







A minha avó ficou com os filhos em Portugal, mas, assim que o meu avô arranjou trabalho e casa, ela foi ter com ele, com um passaporte de turista, que só dava para 3 meses. Depois, quando estava lá, é que arranjou outro.Os filhos ficaram ainda alguns meses em Portugal, mas depois também foram ter com os pais e, mais uma vez, a salto. A minha mãe ainda se lembra de terem ido com um casal desconhecido e andarem muito a pé, por terrenos descampados.“Tinha 7 anos e ia cheia de medo, a pensar que nos iam roubar, mas tinha que tomar conta dos meus irmãos mais novos que choravam muito e queria encontrar depressa o meu pai” – disse a minha mãe. “Ainda bem que agora se pode ir para todo o lado.”No fim de 5 anos, por término do contrato do meu avô e por um bom contrato de trabalho em Portugal, regressaram todos. Foi em Julho de 1973. O 25 de Abril ainda não tinha acontecido.









Margarida

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